BEBEDEIRAS, ORGIAS E “COISAS SEMELHANTES À ESTAS”: PARTE II

Com este artigo finalizamos o estudo das obras da carne (Gl 5.19-21), acerca das quais apóstolo Paulo declarou que “…os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.21). As bebedeiras e as orgias são pecados muito relacionados, uma vez que as bebedeiras geralmente conduzem às orgias licenciosas, que se caracterizam pela extravagância, desregramento, imodéstia, indiscrição e indisciplina. Isso é o que também podemos chamar de libertinagem, devassidão ou perversão de costumes (dissolução).
No texto grego de Gl 5.21a, encontramos a expressão “phthonoi, methai kōmoi kai ta homoia toutois…”, que literalmente significa: “invejas, bebedeiras, orgias e as coisas semelhantes a estas”. “Orgias”, no plural, é a melhor tradução da palavra grega “kōmoi”, conforme observamos nas versões bíblicas NVI e AS21. Porém, as traduções de Almeida (ARC e ARA) traduzem “kōmoi” para o português por “glutonarias” e a NTLH por “farras”.
No panteão grego existia um deus pagão chamado de Dioniso, que era o deus do vinho, mas também das festas e do prazer. Entre os romanos ele era conhecido como Baco e, além de ser o deus do vinho, ele também era o deus da embriaguez e das orgias. As festas em sua homenagem eram denominadas de bacanal, as quais eram marcadas por todo tipo de devassidão, libertinagem e práticas licenciosas e libertinas, especialmente àquelas na área sexual, todas incitadas pela embriaguez.
A origem do termo grego “kōmoi” está associada a esse bacanal, no qual realizavam uma procissão noturna e luxuriosa de pessoas bêbadas e galhofeiras que após um jantar desfilavam pelas ruas com tochas e músicas em honra a Baco ou algum outro deus, e cantavam e tocavam diante das casas de amigos e amigas. Por iso, esse termo também era usado geralmente para festas e reuniões para beber que se prolongava até tarde e que favorecia a folia.
No original grego do Novo Testamento, “kōmoi” aparece em apenas três versículos: Rm 13.13; Gl 5.21 e 1 Pe 4.3. No primeiro, a Bíblica recomenda: “Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja” (Rm 13.13 – NVI). No segundo, apóstolo Paulo afirmou que as orgias são obras da carne, próprias da natureza humana pecaminosa e que implicam na perda da salvação (Gl 5.21). No terceiro, apóstolo Pedro afirma que as orgias são práticas do velho homem e são coisas do mundo: “No passado vocês já gastaram bastante tempo fazendo o que os pagãos gostam de fazer. Naquele tempo vocês viviam na imoralidade, nos desejos carnais, nas bebedeiras, nas orgias, na embriaguez e na nojenta adoração de ídolos” (1 Pe 4.3 – NTLH).
Diante do exposto, vemos que as orgias não condizem com o bom testemunho cristão, ou seja, não é coisa de crente. Muitas pessoas, por mais regradas ou moderadas que sejam, de vez em quando “soltam a franga” e se entregam às orgias, pervertendo os bons costumes e praticando toda sorte de licenciosidade, devassidão e libertinagem. Isso é muito comum em momentos de lazer, em festas de casamento, despedidas de solteiro, formatura, carnaval e tantas outras.
É com tristeza que as vezes tomamos conhecimento de crentes envolvidos em tais práticas, misturando o sagrado com o profano. Por que os cristãos estão cada vez mais importando comportamentos pecaminosos do mundo e introduzindo em suas festas, as quais deveriam ter mais pudor e modéstia? O crente deve influenciar positivamente o mundo, e não o mundo influenciar negativamente o crente (Jo 15.18-19; 17.14-17; Rm 12.2; Tg 4.4; 1 Pe 1.13-16; 1 Jo 2.15-17).
Não somos contra o cristão se divertir, gozar de momentos de entretenimento e de descontração, mas tudo tem que ser feito com decência e ordem (1 Co 14.40). A Bíblia afirma que “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1 Co 6.12 – ARA). Leia também 1 Co 10.23. Paulo ainda afirma: “Irmãos, fostes chamados para a liberdade. Mas não useis da liberdade como pretexto para a carne…” (Gl 5.13 – AS21).
Após citar 16 obras ou pecados da carne, Paulo declara: “…e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.21). A expressão “e coisas semelhantes a estas” indica que essa lista de vícios e pecados da carne (Gl 5.19-21) não está completa, até mesmo porque encontramos outras listas semelhantes na Bíblia (Mt 15.19-20; Rm 1.28-32; 1 Co 5.10-11; 6.9-10; 2 Co 12.20; Ef 5.3-5; 1 Tm 1.9-10; 2 Tm 3.1-5; 1 Pe 4.3; Ap 21.8). Sigamos a recomendação bíblica que diz: “…Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne” (Gl 5.16).

Ev. Fábio Henrique T. de Oliveira (1º Secretário da Assembleia de Deus em Mossoró-RN e professor da EBD e do CETADEM)

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