Das nove obras da carne que se manifestam nas relações interpessoais (Gl 5.20-21 – ARC), já falamos sobre ciúme e invejas, como também sobre as ambições egoístas e as contendas de palavras. Agora vamos falar sobre inimizade (gr. echthra), ira (gr. thumos) e homicídio (gr. phonos). No original grego de Gl 5.20-21, essas três palavras aparecem no plural (“echthrai”, “thumoi” e “phonoi”), denotando que cada uma dessas obras da carne se origina e se manifesta de várias maneiras.
Convém salientar que a palavra “homicídios” (gr. phonoi) que aparece em Gl 5.21, só aparece na versão ARC, que foi traduzida a partir do “Textus Receptus”, enquanto as versões da Bíblia em português, baseadas no Texto Crítico do Novo Testamento Grego (ARA, NVI, NTLH, etc.), não trazem essa palavra. Trata-se de uma variante textual que vamos considera-la brevemente neste artigo.
Não restam dúvidas de que os pecados de ciúme, invejas, ambições egoístas e contendas de palavras geram inimizades e iras, e até homicídios. Isso evidencia cada vez mais a transgressão do mandamento de amar o próximo como a si mesmo (Mc 12.31).
O vocábulo grego “echthrai”, que aparece em Gl 5.20, é traduzido geralmente por “inimizades” ou “ódio”. Podemos afirmar que “echthra” é muito mais que falta de amizade. É ódio, aversão, malquerença e rancor profundo, como também uma paixão que impele uma pessoa a causar ou desejar mal a alguém. Como obra da carne que é, “echthra” é o antônimo exato de “agape”, que é um aspecto do fruto do Espírito. Enquanto o amor (gr. agape) predispõe a mente e o coração de uma pessoa para exercer abnegadamente a benignidade e a bondade em favor do próximo, a inimizade (gr. echthra) é uma atitude mental hostil que provoca e afronta outras pessoas, desejando e fazendo de tudo para prejudica-las.
A palavra “echthra” ocorre seis vezes no Novo Testamento Grego, significando inimizade entre pessoas (Lc 23.12), inimizade do homem para com Deus (Rm 8.7; Tg 4.4), uma obra da carne (Gl 5.20) e inimizade racial entre judeus e gentios (Ef 2.14-16), semelhante à inimizade entre gregos e bárbaros (Rm 1.14). Portanto, qualquer tipo de preconceito ou discriminação racial é uma obra da carne e é pecado.
A ira (gr. thumos) é outro pecado praticado no âmbito das relações sociais entre as pessoas. As versões em português da Bíblia traduzem “thumos” por ira, com exceção da NTLH, que traduz muito bem o vocábulo “thumus” por “acesso de raiva”. A ira é um impulso violento ou irritação forte contra o que nos ofende, fere ou nos causa indignação.
No grego do Novo Testamento, tanto a palavra “orge”, como a palavra “thumos”, significa ira. Enquanto a primeira se refere a uma ira mais crônica e duradoura, refletindo o temperamento de uma pessoa de sangue mais frio, a segunda se refere a uma explosão de ira proveniente de uma indignação interior, porém passageira, refletindo o temperamento colérico de uma pessoa de sangue mais quente.
“thumos” é uma palavra com muitos significados e com potencial quase ilimitado para o bem ou para o mal, podendo ser usada a respeito dos homens, no bom ou mau sentido, como também a respeito de Deus no bom sentido. No bom sentido, “thumos” significa a justa indignação diante daquilo que está errado.
A ira é como a dinamite que pode ser usada para abrir caminhos ou túneis através de uma rocha por meio de explosões, ou para destruir uma bela edificação ou cidade e reduzi-las a escombros. Como obra da carne, a ira é colérica, é um acesso ou ataque súbito de raiva que se acende dentro de nós com muito ímpeto. A pessoa irascível tem pavio curto e se ira com facilidade. O irascível tem um gênio ou temperamento explosivo, que rapidamente se incendeia em palavras e ações violentas (Cl 3.8), mas que se apaga com a mesma rapidez com que se acendeu.
Como um abismo chama outro abismo (Sl 42.7), uma pessoa com um coração cheio de inimizades e de iras pode chegar a praticar assassinatos (gr. phonoi) de nomes e de reputações, ou até mesmo tirar a vida de pessoas que são alvos de suas inimizades, iras, ciúme, invejas, ambições egoístas e contendas de palavras.
Os pecados de inimizades, iras e homicídios são graves e típicos de uma vida não regenerada e inclinada para as coisas da carne (Rm 8.1-2,5-6,8; Gl 5.16-26; Cl 3.1-11). Esses pecados implicam na perda da comunhão com Deus e levam seus praticantes à condenação eterna (Mt 5.21-26; Gl 5.19-21; 1 Jo 2.9-11; 3.14-16; Ap 21.8; 22.15). A solução para isto é produzirmos o fruto do Espírito (Gl 5.22-26) e seguirmos a seguinte recomendação bíblica: “Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou” (Cl 3.12-13 – NVI).
Ev. Fábio Henrique (1º Secretário da Assembleia de Deus em Mossoró-RN e professor da EBD e do CETADEM)
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