A ORAÇÃO DA FÉ

A Epístola de Tiago traz uma recomendação importante sobre como agir quando alguém da Igreja estiver fraco ou enfermo: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg. 5.13-16). Uma leitura apressada e descontextualizada desse texto pode dar a impressão de que se trata de uma fórmula mágica para conseguir a cura de um doente, e se essa não vier a acontecer, a culpa poderá recair sobre o enfermo, por causa dos seus pecados.
Mas é necessário ter cautela para interpretar esse texto, pois as consequências de uma aplicação indevida de determinada passagem bíblica podem ser desastrosas, e em alguns casos, irreparáveis. Inicialmente, destacamos a relevância da fé para a vida do cristão. O escritor da Epístola aos Hebreus afirma que sem fé é impossível agradar a Deus, portanto, aqueles que dEle se aproximam devem saber que é Galardoador dos que O buscam (Hb. 11.6). Por isso a fé é indispensável para que a cura possa acontecer, justamente por esse motivo Jesus deixou de fazer muitos milagres em Nazaré, por causa da incredulidade dos habitantes daquela cidade (Mt. 13.58). A oração é extremamente necessária, o próprio Tiago ressalta que muitas vezes deixamos de receber de Deus simplesmente porque não pedimos (Tg. 4.2).
No caso de Tg. 5.13-16, não podemos usar essa passagem bíblica como uma espécie de amuleto, a fim de pressionar Deus para realizar a cura de uma enfermidade. Interpretemos, pois, a passagem em seu devido contexto: Tiago recomenda que se alguém estiver doente, o termo grego é kakopaheo, cujo significado é mais amplo, e pode se referir também a alguém que se encontra aflito, os presbíteros da Igreja deverão ser chamados, para orar por essa pessoa, e ungi-lo com azeite, para que se levante da doença, que no grego kamnonta, dá ideia também de desfalecimento. Nessa perspectiva, destacamos que a unção com óleo não tinha como objetivo garantir a cura, antes simbolizava que essa pessoa pertencia a Deus, e que se encontra debaixo da Sua proteção.
Além disso, a unção com óleo acompanhada da oração, deve ser solicitada pelos interessados, com vistas à restauração do doente. Outro aspecto muito importante, é que a oração da fé precisa ser feita “em nome do Senhor”. Jesus ensinou, conforme está registrado em Jo. 14.13, que devemos fazer tudo em Seu nome, a fim de que Deus seja glorificado. Essa é uma atitude que reconhece a soberania de Deus, que responderá nossas orações, a fim de que Sua glória seja manifestada, mesmo que não aconteça o que desejamos. Isso quer dizer que nossa responsabilidade, enquanto pastores ou presbíteros da igreja, é orar pelas pessoas que se encontram enfermas, e solicitam nossa intercessão, mas a decisão de curá-las pertence a Deus. Há casos em que Ele decide não curar, e levar a pessoa enferma para o céu, o que pode ser consideravelmente melhor (Fp. 1.23).
O próprio Paulo, em II Co. 12, pediu ao Senhor que retirasse dele um “espinho na carne”, que estava incomodando seu ministério. O Apóstolo orou a Deus por três vezes, mas a resposta foi negativa: “a minha graça te basta, o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (II Co. 12.9). É preciso ter cuidado para não culpar as pessoas por não serem curadas, e colocar sobre elas um fardo ainda maior, além dos sofrimentos advindos da enfermidade. Nem sempre os doentes deixam de ser curados pela falta de fé de quem ora ou de quem está enfermo. Não podemos descartar a perspectiva divina. Devemos orar sempre, e exercitar nossa fé, mas nossa confiança está firmada na convicção que, se pedirmos segundo a Sua vontade, Ele nos ouve (I Jo. 5.14,15).
Devemos acreditar sempre que a oração faz a diferença, pois a “oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg. 5.16). A oração é o oxigênio por meio do qual a alma humana pode respirar. Ela deve ser prática contínua na vida do crente, por isso Paulo instruiu os crentes a orarem sem cessar (I Ts. 5.17). Deus tem seus planos, e em alguns casos, deseja realiza-los conosco, por isso espera que oremos, a fim de concretizá-los. É nesse contexto que o Senhor pode curar os doentes, e aliviar os aflitos. O mais importante, no entanto, é a restauração espiritual deles. As palavras gregas utilizadas por Tiago para doente dão ideia de fraqueza emocional e espiritual. O contexto dessa passagem revela que Tiago tinha em perspectiva uma debilidade que ia além do meramente físico. Por isso recomenda a confissão dos pecados e a necessidade do perdão (Tg. 5.15).
A restauração pode se dá justamente por meio da confissão, principalmente quando se trata de uma debilidade psicossomática, ou seja, resultante de uma perturbação mental, por causa de um pecado reconhecido e não expressado, que traz implicações para o corpo físico. É justamente a esse respeito que Paulo adverte os crentes de Corinto, atestando que havia entre eles muitos fracos e doentes, e alguns que até já haviam morrido (I Co. 11.29,30). Em tais contextos, é preciso que haja arrependimento, a fim de que os pecados sejam apagados, e a pessoa possa encontrar refrigério (At. 3.19). Ainda que a cura física não aconteça, temos a garantia da restauração espiritual. E essa certamente é mais importante, pois temos a garantia da vida eterna, e a certeza que preciosa é aos olhos do Senhor, a morte dos seus santos (Sl. 116.15).

Ev. José Roberto A. Barbosa (2º Secretário da Assembleia de Deus em Mossoró-RN e professor da EBD)

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