NÃO JULGUEIS

Não julgueis para que não sejais julgados (Mt. 7.1- ARC).

A expressão “não julgueis”, em grego é Μὴ κρίνετε e diz respeito ao ato de separar, distinguir, discriminar. O verbo deriva de κρίνω, cujo sentido é o de distinguir ou decidir, e por implicação, condenar ou punir. A construção gramatical se encontra no imperativo, na voz ativa e na segunda pessoa do plural. A tradução literal é: “Não julgueis”, assim traduzida para o português na Almeida Revista Atualizada (ARA), e na Almeida Corrigida (ARC). A Nova Versão Internacional opta por “Não julguem”, a fim de trazer uma linguagem mais contemporânea.

Esse versículo tem sido amplamente usado nas discussões interpessoais. A quem evoque essa passagem para defender-se de supostos julgamentos. Mas o uso desse trecho bíblico não pode ser usado para respaldar práticas pecaminosas. Precisamos atentar para o contexto no qual esse verso se encontra. Em Mt. 7 Jesus está repreendendo a hipocrisia dos fariseus, que facilmente percebiam os pecados dos outros, mas não os deles mesmos. O Senhor reivindica um padrão de vida moral compatível com os cidadãos do reino de Deus.

Sendo assim, aqueles que se arrependem e colocam sua fé em Jesus para a salvação passam a serem filhos de Deus, por isso devem viver em novidade de vida, amando-O de todo coração e ao próximo com a si mesmo (Mt. 22.34-40; Mc. 12.28-34). É nesse contexto que Jesus afirma: “porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trae que está no teu olho?” (Mt. 7.2,3 – ARC). E acrescenta: “Ou como dirás a teu irmão: deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita tira primeiro a trave do teu olho e, então, cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão” (IMt. 7.4,5 – ARC).

Várias vezes, ao longo dos Evangelhos, Jesus repreende os fariseus pela hipocrisia deles. Eles se destacavam por estabelecer padrões elevados para as pessoas, mas eles mesmos não obedeciam ao que estipulavam como regra de vida. A esse respeito, devemos estar cientes que uma coisa é ser julgado pelo seu semelhante, outra totalmente diferente é ser julgado pelo próprio Deus. Os hipócritas, isto é, aqueles que pecam, mas não se arrependem, incorrem em grave risco. Julgamento maior está reservado àqueles que veem apenas os pecados dos outros, mas não se apercebem dos seus próprios pecados.

Uma tradução mais livre de Mt. 7.1 seria: “Parem de julgar as outras pessoas de maneira hipócrita, e se apercebam do pecado em suas próprias vidas”. O enfoque desse texto está no julgamento hipócrita dos fariseus, nada tem a ver com o tratamento dado ao pecado, na forma de disciplina, principalmente no contexto da igreja (I Co. 5.1-13). A menos que a pessoa que esteja acusando alguém de pecado esteja envolvida no mesmo tipo de prática. Há pessoas que transferem sua culpa para os outros, como faziam os religiosos dos tempos de Jesus. Elas cometem os mesmos pecados (ou similares), mas se adiantam em julgar os outros, na maioria das vezes, de maneira intransigente.

Alguns cristãos são julgados por exigirem padrões morais elevados das pessoas, mas cometem pecados incompatíveis com a fé que professam. Evidentemente isso não quer dizer que os cristãos devem ser perfeitos, mas que devem ter cuidado para viver de modo que não venham escandalizar o nome de Cristo. O cerne desse versículo é: devemos ficar atentos ao pecado em nossas vidas. Reconhecê-lo, e confessá-lo a Deus é o caminho para obter o perdão, sobretudo saúde espiritual e física. É preciso se desvencilhar da velha natureza, e se revestir do novo homem em Cristo (Ef. 4.24; Cl. 3.10).

Esse é um exercício espiritual, e não pode ser alcançado individualmente, carecemos da ajuda uns dos outros, e da produção do fruto do Espírito em nós (Gl. 5.22). Em relação ao cuidado de uns com os outros, Tiago nos lembra de que se um irmão pecar, e se esse demonstrar arrependimento, devemos ajudá-lo, e ao fazê-lo salvaremos uma alma da morte, e cobriremos “uma multidão de pecados” (Tg. 5.20 – ARC). Paulo deu orientação semelhante aos crentes gálatas, para que ajudassem aqueles que foram surpreendidos em algum pecado, encaminhando-o com mansidão ao caminho da verdade, mas tendo cuidado de não incorrer no mesmo erro (Gl. 6.1).

Portanto, Jesus não proíbe a identificação do pecado, nem mesmo a disciplina, quando essa se fizer necessária. A repreensão do Senhor se aplica àqueles que julgam, mas cometem as mesmas práticas, ou mesmo piores. O juízo de Deus sobrevirá sobre aqueles que se apressam a julgar os pecados dos outros, mas deixam a decadência da sua condição.

Ev. José Roberto A. Barbosa (2º Secretário da Assembleia de Deus em Mossoró-RN e professor da EBD)

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