Os tempos difíceis ou trabalhosos dos últimos dias também são marcados pela jactância de muitas pessoas (2 Tm 3.2 – ARA). O termo grego “alazon”, que aparece na Bíblia somente em 2 Tm 3.2 e em Rm 1.30, se refere ao orgulho pretencioso e presunçoso, a alguém que é fanfarrão e que gosta de aparecer, a pessoas ostentadoras e jactanciosas, que se gabam dessas coisas. Pessoas dessa qualidade costumam realizar autopropaganda das suas proezas e realizações (muitas delas inverídicas ou superlativadas), com o objetivo de impressionar e chamar a atenção dos outros.
Ao falar sobre a ira de Deus que se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens (Rm 1.18), Paulo disse que o próprio Deus entregou os homens que O rejeitaram a uma disposição mental reprovável para praticarem coisas inconvenientes (Rm 1.28), inclusive o pecado de jactância (Rm 1.30 – ARA). As pessoas jactanciosas geralmente são exibicionistas e se preocupam de mais em ostentar aparatos suntuosos, nababescos e pomposos.
Se consideramos inconveniente a pessoa viver se gabando daquilo que é, muito mais reprovável é a ufania ou vaidade descabida de alguém que se vangloria daquilo que não é. No Novo Testamento grego a palavra “alazoneia” ocorre somente em Tg 4.16 e em 1 Jo 2.16, justamente com esse sentido da pessoa alardeadora que ostenta uma coisa que não é, que não sabe ou que não tem. Ela vive na hipocrisia das aparências, pois tem um desejo imoderado de atrair admiração ou homenagens das outras pessoas. Elas procuram autoestima e aceitação nessas coisas.
A versão bíblica ARA, no texto de Tg 4.16, traduz “alazoneia” pela expressão “arrogantes pretensões”, que no contexto desse versículo se refere a projetos humanos cujos idealizadores comemoram antecipadamente seus resultados sem ter nenhuma garantia de que eles são da vontade de Deus ou que eles irão realmente se concretizar.
Em 1 Jo 2.16, enquanto as versões ARC e ARA traduzem “alazoneia” pela expressão “soberba da vida”, a versão NVI traduz esse termo grego pela expressão “ostentação dos bens”, dando a ideia da falsa segurança que é alguém confiar nas riquezas (Pv 11.28; 1 Tm 6.17). Isso na verdade é um blefe com o objetivo de esconder uma situação precária ou desvantajosa. Segundo o apóstolo João, essas coisas “…não é do Pai, mas do mundo” (1 Jo 2.16).
O rei Nabucodonosor foi um rei próspero (Dn 4.20-22; 5.18-19), mas infelizmente encheu o seu coração de jactância (Dn 5.20). Em certa ocasião, ele estava passeando pelo palácio real e se vangloriou do seu sucesso e disse: “…não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder e para glória da minha magnificência?” (Dn 4.30). No mesmo instante, Deus lhe tirou o reino e fez ele habitar com os animais do campo e comer ervas como os bois (Dn 4.31-33), até ele reconhecer que Deus é soberano e pode humilhar aos que andam na soberba (Dn 4.37). Realmente, Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tg 4.6; 1 Pe 5.5). O rei Herodes também caiu no pecado de jactância, pois uma certa vez ele vestiu “…seus trajes reais, sentou-se em seu trono e fez um discurso ao povo. Eles começaram a gritar: ‘É voz de deus, e não de homem’. Visto que Herodes não glorificou a Deus, imediatamente um anjo do Senhor o feriu; e ele morreu comido por vermes” (At 12.21-23 – NVI).
No Sermão da Montanha, Jesus recomendou a modéstia e criticou as práticas jactanciosas de pessoas que dão esmolas (Mt 6.2-4) e jejuam (Mt 6.16-18) para serem vistas pelos homens. A advertência dele é clara: “tenham o cuidado de não praticar suas ‘obras de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial” (Mt 6.1 – NVI). Jesus contou a parábola do Fariseu e do Publicano justamente para algumas pessoas jactanciosas que desprezavam os outros (Lc 18.9). Jesus não somente justificou o publicano humilde, mas também condenou o fariseu gabola e declarou: “…qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado” (Lc 18.14). Em outra ocasião Jesus tornou a condenar a jactância dos fariseus: “…vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração, porque o que entre os homens é elevado perante Deus é abominação” (Lc 16.15).
Adotando o mesmo sentimento de modéstia e humildade que houve em Cristo Jesus (Fp 2.5), apóstolo Paulo falou da sinceridade dele quando exerceu o seu ministério entre os tessalonicenses e afirmou: “…não buscamos glória dos homens, nem de vós, nem de outros…” (1 Ts 2.6). Por causa disso ele tinha autoridade para recomendar que “não sejamos cobiçosos de vanglórias…” (Gl 5.26), e para que “nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade…” (Fp 2.3). Portanto, “quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo…” (Gl 6.14 – NVI).
Ev. Fábio Henrique (Bacharel em Teologia, 1º Secretário da IEADEM e professor da EBD e do CETADEM)