A palavra misericórdia, à luz da Bíblia, fala da bondade, amor e graça de Deus para com o ser humano, manifesto no perdão, na proteção, no auxilio, no atendimento e súplicas. Essa disposição de Deus se manifesta desde a criação e acompanhará seu povo até o final dos tempos.
A Bíblia nos diz que certa ocasião o Senhor Jesus estava ensinando sobre o bom relacionamento entre os irmãos no que se refere ao perdão; e o apóstolo Pedro, homem de caráter impulsivo, indagou-lhe quantas vezes deveria perdoar a seu irmão, se sete vezes.
Dizem os estudiosos que tinham razões para mencionar sete vezes, a luz dos ensinamentos rabínicos. A doutrina dos rabis daquele tempo ensinava que uma pessoa devia perdoar no máximo três vezes. Vejam o que diz: “Se um homem comete um erro uma vez, deve perdoá-lo; na segunda vez, deve perdoá-lo; e também na terceira vez; porém, não perdoar na quarta vez.
Esses rabis tinham uma interpretação errada de um texto do primeiro capítulo de Amós. Ali Deus fala da condenação das nações por três transgressões ou por quatro. Dessa expressão, os sábios e escribas judeus, concluíram que o perdão de Deus ia somente até três transgressões. E, sendo assim, o homem não poderia ser mais misericordioso do que Deus.
Pedro, conhecedor da misericórdia do Senhor, tomou o número sugerido pelos rabis, dobrou-o e acrescentou mais um, e perguntou sobre perdoar por sete vezes. Naturalmente, ele pensou que estava sendo muito generoso. Mas, Jesus lhe disse que deveria perdoar setenta vezes sete. O Senhor sabia que depois que perdoássemos alguém 490 vezes, teríamos adquirido o hábito de perdoar.
Estava mostrando a Pedro que, para Deus, não há limite de perdão – que Ele nos perdoará sempre que o buscarmos de coração.
Depois, Jesus contou uma história acerca de um certo servo que foi perdoado em uma grande dívida. Esse homem devia ao outro dez mil talentos. O talento de ouro ou prata era uma moeda romana de grande valor.
Mas esse servo não possuía bens, não tinha nada com que pagar a dívida. Assim sendo, ele e sua família seriam vendidos como escravos. Nós também pecamos contra Deus. E creio que é impossível calcularmos a imensidão e a hediondez de nosso pecado. Acho mesmo que Jesus estava tentando mostrar-nos que nossos pecados são mais ou menos como a terrível dívida desse homem – incalculáveis!
Mas, o senhor daquele servo era homem compassivo e cheio de misericórdia. Tinha amor no coração. O devedor não possuía recursos próprios, assim, como não os possui o pecador.
O credor da parábola moveu-se de compaixão. Soltou o devedor e perdoou-lhe toda a dívida – uma quantia fabulosa. É assim, também, que nosso grande e misericordioso Deus está disposto a fazer conosco e perdoar-nos.
Mas, depois que aquele servo foi perdoado, encontrou-se com outra pessoa que lhe devia uma quantia irrisória – cem denários. Esse não usou de misericórdia e sufocando-o exigia-lhe que pagasse a dívida imediatamente.
Mas, esse devedor também não tinha com que pagar, então o outro lançou-o na prisão.
Se nós já fomos perdoados em incalculável dívida de pecados, devemos ter uma constante atitude de perdão. Foi isso que Jesus quis ensinar ao contar essa história.
Felizmente, os amigos do homem que fora preso, tiveram compaixão dele, e procuraram o senhor daquele servo e lhe narraram o sucedido. O senhor ficou grandemente irado, e entregou seu servo aos torturadores, para que ele pagasse tudo que lhe devia. E, depois, Jesus acrescentou: “Assim também meu Pai celeste vos fará se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão” (Mt 18.35).
O perdão tem que partir do coração, senão não será perdão. Essa verdade é ensinada em todo o Novo Testamento. Cada pessoa tem que perdoar aos outros para que seja perdoada. Nós lemos na Bíblia o seguinte: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Isso implica em que aqueles que não forem misericordiosos não receberão misericórdia. O homem que não consegue perdoar o seu próximo, não deve esperar que Deus o perdoe, pois, assim, o Senhor nos ensinou a orar dizendo: “perdoa-nos assim como nós perdoamos…” Que este ano novo seja o ano do perdão entre marido e mulher, pais e filhos, entre os irmãos, empregados e patrões, amigos e colegas de trabalho, enfim, entre aqueles que são alcançados com a misericórdia de Deus. Vivamos, portanto, a plenitude da bênção de Deus que enriquece e não acrescenta dores (Pv 10.22).
Pr. Francisco Vicente (1º Vice-Presidente da AD em Mossoró e diretor do Departamento de Missões)
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