Sacrifício

A prática do sacrifício sempre foi um tema fundamental, tanto na cosmovisão judaica quanto cristã. A palavra hebraica para sacrifício é zabah, cuja primeira ocorrência se encontra em Gn. 31.54, na qual Jacó oferece um sacrifício a Deus, e compartilha uma refeição com Labão, antes de partir. Essa é a mesma palavra usada por Moisés, quando pediu a Faraó que o povo de Israel fosse para o deserto, para zabah – sacrificar – ao Senhor (Ex. 5.3). Essa palavra também foi utilizada pelo salmista, ao convidar todo o povo a sacrificar oferendas de gratidão a Deus (Sl. 50.14).
Mas zabah não é a única palavra usada no Antigo Testamento para sacrifício. Na verdade, a mais utilizada é zebah, que se referia aos vários tipos de sacrifícios no sistema religioso hebreu. Ela era usada para o sacrifício de um cordeiro por ocasião da saída do povo do Egito (Ex. 12.27). Na Lei Mosaica, através dos sacrifícios, cordeiros era imolados, em adoração a Yahweh (Ex. 24.5), por ocasião da Páscoa (Ex. 34.25), anualmente (I Sm. 1.21), e em gratidão (Lv. 22.29). O sangue de um cordeiro costumava ser derramado, como parte do sacrifício de expiação, pelos pecados do povo.
Contudo, não apenas os sacrifícios eram agradáveis ao Senhor, Samuel lembrou a Saul que era mais apropriado obedecer do que oferecer zebah (I Sm. 15.22). Davi também reconheceu que Deus não se comprazia simplesmente nos sacrifícios, mas principalmente no coração quebrantado e contrito (Sl. 51.15,17). Essa é a mensagem dos profetas da Antiga Aliança, o próprio Deus adverte Seu povo, por meio de Oseias, que deseja misericórdia, e não zebah (Os. 6.4). Por meio do profeta Miqueias, Yahweh esclarece que Sua vontade não é o sacrifício de animais, mas que os seres humanos “pratiquem a justiça, ame a fidelidade e que ande humildemente diante de Deus” (Mq. 6.6-8).
No Novo Testamento, o verbo sacrifício é thuo, que vem da raiz de tuõ, que significa “sacrificar” uma oferta queimada. Assim thuo significa “oferecer um sacrifício ritual” ou cerimonialmente “matar um animal em sacrifício” a um deus (At. 13.13,18; I Co. 10.20). Esse verbo também era usado para se referir aos sacrifícios da Páscoa, no qual um cordeiro era imolado (Mc. 14.12; Lc. 22.7), e posteriormente, ao sacrifício de Jesus, nosso Cordeiro Pascoal (I Co. 5.7). Um anjo-mensageiro faz uso desse verbo, ao ordenar a Pedro que matasse e comesse os animais vistos na visão, que foram identificados como impuros pelo discípulo de Cristo (At. 10.13).
O substantivo grego thusia se refere no texto neotestamentário a qualquer sacrifício como oferta, a qualquer deus (Hb. 10.8). Mas esse termo é usado especificamente pelos escritores para fazer alusão aos sacrifícios oferecidos no templo judaico (Lc. 2.24; Hb. 5.1). Esses sacrifícios apontavam para Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo. 1.29). Ele o sacrifício Único e Perfeito (Ef. 5.2; Hb. 9.26; 10.12), por meio do qual os seres humanos podem se aproximar de Deus. O thusia de Jesus torna desnecessário o sacrifício de animais, considerando que esse foi suficiente para alcançar a todos àqueles que por meio dele se achegam ao Pai.
A vinda de Jesus a terra modificou todo o sistema de sacrifício judaico, considerando que Ele é descrito como o Cordeiro Pascoal (I Co. 5.7) e a oferta satisfatória para o pecado da humanidade(Rm. 8.3). Isso faz alusão direta ao Servo Sofredor de Is. 53, e ao Messias de Daniel, no capítulo 9. A palavra expiação, e propiciação, demonstram que o zebah/thusia de Jesus foi aceito por Deus. Por isso o autor da Epístola aos Hebreus descreve Jesus como nosso sacrifício pelo pecado (Hb. 2.9) e o cumprimento cabal dos sacrifícios da aliança (Hb. 9.10), com base nas especificações de Ex. 24. A celebração da Ceia trata-se, portanto, de um memorial, em relação ao sacrifício de Jesus (I Co. 11.23-26).
Por causa desse thusia, os cristãos podem agora oferecer sacrifício de louvor (Hb. 13.15), fazendo boas obras (Hb. 13.16). A oferta entregue em favor daqueles que se entregam à causa do evangelho, especialmente na obra missionária, é um thusia (Fp. 4.18). O sentido de sacrifício no Novo Testamento é bem mais amplo que no Antigo Testamento. Isso porque a vida do cristão, em sua inteireza, é um thusia espiritual (I Pe. 2.5; Rm. 12.1). E nesse sentido que Paulo assume ser um thusia, em prol dos filipenses (Fp. 2.17). Por isso a vida do cristão, em todo tempo, e até o momento de partir da terra, é um zebah/thusia, que sobe como cheiro suave às narinas de Deus. A vida do cristão, nesse contexto, é um sacrifício contínuo, uma oferta agradável a Deus, com vistas à maturidade da Igreja.

Ev. José Roberto A. Barbosa (2º Secretário da Assembleia de Deus em Mossoró-RN e professor da EBD)

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