Em I Co. 10.13 Paulo declara: “não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar”. De vez em quando essas palavras são usadas equivocadamente, em contextos nos quais não se adequam à intenção do Apóstolo. Há quem argumente que nunca somos tentados além do que podemos suportar, e mais, que Deus sempre nos livrará da tentação. Mas isso não vem ao caso, devemos lembrar, a princípio, que tentações são diferentes de provas.
Em relação a essas últimas, Paulo declarou que passou por muitos sofrimentos, alguns deles difíceis de suportar. Em II Co 6.4,5 discorre a respeito das adversidades que enfrentou “nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns”. No início dessa mesma Epístola relata sua experiência: “pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida desesperamos” (II Co. 1.8). Isso nos mostra que há casos em que somos provados além das nossas forças, com o objetivo de aprendermos de Deus, a confiar nEle que demonstrou poder ao ressuscitar Cristo dentre os mortos (Ef. 1.19,20).
A fim de conciliar os textos, e evitar a confusão entre tentação e provação, faz-se necessário atentar para as circunstâncias pelas quais Paulo passou. Em I Co. 10.13, o enfoque do Apóstolo é especificamente as tentações, que muito embora seja a mesma palavra em grego – peirasmos – tem significado distinto da provação, dependendo do contexto. Ele objetiva alertar os crentes coríntios quanto aos riscos de confiar demasiadamente neles mesmos diante das tentações. Antes de se tornarem cristãos, os coríntios participavam de festividades pagãs, e alguns deles pensavam que poderiam manter o mesmo estilo de vida depois de crentes.
Diante da nova condição em Cristo, Paulo advoga que os crentes tinham liberdade, mas que não deveriam usá-la para a libertinagem. Ademais, fazia-se necessário também atentar para a fé dos demais crentes da igreja, de modo a não servir de escândalo para os mais fracos. A fim de admoestá-los, recorre a várias ilustrações do Antigo Testamento, mostrando como Israel caiu diante das tentações. Com isso destaca o perigo de confiar demasiadamente em si mesmo diante das tentações. E esclarece: “aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia” (I Co. 10.12). É importante enfocar não o “além do que podeis suportar”, mas “Deus que dará também o escape”.
Como cristãos precisamos saber que a tentação alcança a todos indistintamente, e nada há de errado em ser tentado. Mas diferentemente do que defendeu certo pensador, entregar-se à tentação não é a melhor maneira de enfrentá-la. Muito pelo contrário, devemos saber que “fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis”, e mais “dará também o escape, para que a podeis suportar”. É muito bom saber que Deus conhece a condição do crente diante das tentações (Hb. 4.15). E mais, conhece os limites pessoais de cada um, e não permite que sejamos tentados além do que podemos suportar. Temos um exemplo, e alguém que se identifica conosco, pois Jesus, “sendo tentado, pode socorrer aos que são tentados” (Hb. 2.18).
Por isso, diante das tentações, recorramos às mesmas armas que Jesus usou no deserto (Mt. 4.1-11), principalmente à Palavra de Deus, que é a espada do Espírito (Ef. 6.17). Aprendamos com o Senhor, pois o Inimigo tentou atacá-LO, que em resposta citou textos das Escrituras, a fim apagar os dardos inflamados do Maligno. Eis um motivo importante para memorizar o texto bíblico, e trazê-lo à consciência nos momentos de adversidade. Saibamos, portanto, que podemos ser tentados, bem como passar por provações, algumas delas para além das nossas forças, mas em todas as situações podemos confiar na fidelidade de Deus.
Ev. José Roberto A. Barbosa (2º Secretário da Assembleia de Deus em Mossoró-RN e professor da EBD)